Um filme cheio de conteúdos para analisar.... IMPERDÍVEL !
Na resenha desse filme, analisei sob a perspectiva de algumas das principais teorias dos processos de ensino e aprendizagem, confiram...
O FILME
O Substituto (“Detachment”, Estados Unidos, 2011) é um filme impactante, o qual confunde nossas emoções, ao mesmo tempo em que ficamos entristecidos, também experimentamos a esperança. Enquanto a indignação pela realidade nos incomoda há uma motivação que se move querendo nos capacitar para “salvar o mundo”.
No filme, Henry Barthers (Adrien Brody) é um professor que trabalha apenas como substituto, lecionando por curtos períodos nas instituições de ensino. Henry optou por essa carreira com a intenção de evitar vínculos afetivos com as pessoas, porém sua facilidade em se comunicar com os jovens prejudicou seus planos.
Atuando como substituto em uma escola pública da periferia, na qual adolescentes violentos e revoltados frequentavam, o professor não conseguiu impedir a construção de vínculos com alunos e professores do local.
Em somente três semanas lecionando nesta escola, Henry enfrentará diversas situações, entre elas a doença de Alzheimer e morte do seu avô, a vida de uma adolescente prostituta que não tem lar, os seus alunos violentos, professores muito dedicados, como também professores angustiados e desanimados. Além dessas situações, uma de suas alunas, Meredith (Betty Kaye), a qual se encontra em grave situação de depressão e angústia, vê no professor uma esperança para a sua vida, uma possível saída do seu sofrimento, porém a adolescente que não superou seu sofrimento, comete suicídio no final da trama, levando todos os personagens para uma profunda reflexão de que como estão se relacionando com as pessoas a sua volta.
PROCESSOS DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM: PERSPECTIVA FREUDIANA
Nos diversos encontros que o professor tem com o outro, seja um aluno ou colega professor, aparecem flash de cenas da sua infância difícil que o perturbam no presente, atrapalhando suas relações sociais. Percebemos que são as experiências na infância que motivaram Henry a evitar laços com as pessoas. A partir dessa consideração, podemos relacionar esses fatos com a teoria de Freud, no que diz respeito ao seu conceito de transferência:
"Nós assumimos que estamos reagindo totalmente ao presente, quando na verdade nossos sentimentos estão extraindo energia de uma fonte de muito tempo atrás". (The School Of Life, 2015).
Há uma relação de transferência entre o professor e os alunos e vice-versa. Uma cena que esse conceito teórico freudiano fica muito claro é quando a adolescente Meredith sente que o professor é diferente, pois ele percebe as pessoas que até então eram evitadas pela sociedade, e tentando se aproximar dele, pede afeto como uma filha pediria ao seu pai. Aqui podemos levantar a hipótese de que ao ser olhada e percebida pelo professor, a adolescente o viu como uma figura paterna, transferindo os sentimentos que tinha por seu pai a Henry, suplicando carinho, afetividade e aceitação.
SOB A PERSPECTIVA DE PAULO FREIRE E A DE EDGAR MORIN
Desde a entrada de Henry na sala de aula, percebemos que ele mantém uma postura de autoridade, porém não de autoritarismo. Colocando-se no lugar dos alunos, Henry conquista o respeito e a atenção deles para as aulas.
Segundo Paulo Freire (1996), o educador deve conhecer a realidade dos seus alunos para trabalhar com questões que façam sentido para a vida deles, procurando transformá-los em seres críticos e autônomos. Conhecendo a situação social que viviam os seus alunos, Henry procurou promover reflexões críticas, incentivando a turma a ler e buscar conhecimento, pedindo que exercitem a associação de ideias em todo tempo, refletindo sobre as situações e lutando por seus próprios ideais com coerência e conhecimento.
Essa atitude do professor também vem de encontro ao que Edgar Morin propõe ao educador: se importar com as condições humanas, não somente com a aprendizagem. Para Morin, é necessário aprender a compreensão humana, exigindo um exercício de empatia, pois compreender é um processo que envolve, além da empatia, a identificação e a projeção. Por exemplo:
“Por conseguinte, se vejo uma criança chorando, vou compreendê-la, não por medir o grau de salinidade de suas lágrimas, mas por buscar em mim minhas aflições infantis, identificando-a comigo e identificando-me com ela”. (Morin, 2000, p. 95)
Não somente o educador, mas enquanto seres humanos, é necessário esse processo de compreender, de olhar para o outro. É necessário mostrar que vemos as pessoas, ouvir suas queixas, reconhecer as suas realidades e se importar com elas, é necessário desejar transformar e contribuir para uma vida melhor.
Henry ao ver uma de suas alunas na rua em prostituição, sofrendo violência sexual, foi empático e agiu compadecidamente por ela, acolhendo-a em sua casa por alguns dias, cuidando de seus ferimentos e encaminhando-a a um abrigo de menores, a fim de tirá-la da rua. Ele não precisava, mas ele olhou para ela e, sendo empático, a acolheu e orientou para um lugar melhor onde ela poderia se desenvolver de modo mais saudável e tranquilo.
OLHAR PARA FAZER A DIFERENÇA
Enquanto profissionais da área das ciências humanas, devemos desenvolver uma visão ampla sobre o sujeito que atendemos, compreendê-lo como um ser completo, que possui um corpo, uma alma e que é implicado por questões psicossociais. Daí a importância dos profissionais trabalharem de modo articulado, integrando a escola com a clínica, os centros de saúde, as instituições de assistência social, as empresas e até mesmo com as instituições de fé que integram os sujeitos.
Enquanto futuros profissionais, seja professor ou psicólogo ou um gerente administrativo, precisamos ser influentes no socius, pois somos co-participantes e contribuintes da nossa realidade.
A partir dessas reflexões teóricas, segue a questão: o que podemos fazer para em sintonia com o discurso superá-lo propiciando melhorias para nossa realidade?
Olhar para o outro é o primeiro passo. Ouvir os sujeitos sem colocar nossos juízos sobre eles, é indispensável. Conhecendo o nosso próximo e sua realidade, ou seja, criando vínculos, temos a liberdade para interferir de modo a promover a autonomia, a criticidade e o apoderamento dos sujeitos para que tomem a direção da sua própria vida. O primeiro passo para a transformação é o protagonismo dos sujeitos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez. Brasília, UNESCO, 2000. Disponível em <https://bioetica.catedraunesco.unb.br/wp-content/uploads/2016/04/Edgar-Morin.-Sete-Saberes.pdf> Visitado em 20/06/18.
The School Of Life. Transference. Youtube, 16 dez. 2015. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=QX_cp1K514E>. Acesso em 20 jun. 2018.
Comments